Em plena semana do Halloween vale a
pena pensarmos no medo...sem nos assustarmos!
Estamos habituados a pensar que a
vida sem o medo seria muito mais fácil e agradável. Mas… que seria de nós sem ele? A verdade é que,
simplesmente, não existiríamos. Sem o medo para nos proteger, atravessaríamos a
rua sem olhar para os carros "só porque tínhamos pressa" ou
enfrentaríamos um animal perigoso sem medidas de segurança "porque o
bichinho até parece de peluche".
De facto, os que, ao longo da
evolução, desdenharam o medo, deram-se mal com isso e morreram sem prole.
Ter medo é normal. E desconfiar do
que não se conhece, temendo pela integridade física ou psicológica, é não só
igualmente normal mas também desejável. O problema do medo não é tê-lo; é, por
um lado, ter reações exageradas de receio face ao grau de risco ou perigo que o
elemento do medo suscita; e, por outro lado, deixar que o medo nos paralise e faça
perder a lucidez.
Em suma, todos os medos são, até
certo ponto, adaptativos uma vez que têm como função proteger-nos de situações
potencialmente perigosas. Deixam, porém, de o ser a partir do momento em que
nos impedem de viver... de ir mais além, de explorar e descobrir um pouco mais
da vida.
Não se deve confundir medo com
timidez ou ansiedade de separação. Medo é algo de irracional, um sentimento de
inquietação que se sente face a uma ameaça exterior. A timidez é uma
característica de personalidade e a ansiedade de separação é, normalmente, mais
momentânea e associada a um momento de corte relacional e /ou entrada num mundo
diferente.
É de uma completa nulidade dizer a
alguém amedrontado: “Não tenhas medo!”. O medo tem-se. Apenas isso. E quem o
tem desejaria bem não o ter.
No caso dos medos infantis, por
exemplo, parece-me sempre de uma extrema arrogância a forma como os mesmos são
tratados pelos adultos quando, eles próprios, tiveram medos, cresceram com
medos e ainda mantêm múltiplos medos na adultícia. Não só é um exercício de
poder inaceitável como é, principalmente, ineficaz. Todos os dias os
telejornais, feitos por adultos, relatam casos que causam medo. O medo é fácil
de “comercializar”, vende e ganha adeptos. O medo vende e leva-nos a adotar
medidas, comprar dispositivos, contratar seguros, etc. É por isso que temos que
encará-lo com lucidez e clareza e mostrar, não só as crianças, mas também aos
adultos, que se estiver a ser exagerado, tem que ser diminuído.
De facto, o maior inimigo do medo é o próprio
medo, porque paralisa quem o tem e insere-o num círculo vicioso que se
autoalimenta.
E uma coisa é certa: a nossa fantasia
é sempre mais aterradora que a realidade! E os monstros só continuarão a
existir e a "agigantar-se" até se acender a luz do quarto...e da
mente!!!
Por exemplo, se uma criança tem medo
de ir sozinha à casa de banho (Ufff…a Bia já passou esta fase…Eram
horaaaaaaaaaaaaaaasssssssssss literalmente de nariz na porta menos apetecível
da casa…à espera de, pois é, chichis e cocós da Dona Bia: Oh mãe, estás aí, não
estás?! O cocó ainda não saiu…Mas fica aí à espera, está bem? Não fujas… Não
filha, a mãe não foge. A mãe espera pelo teu cocó…Enfim…). Continuando, se uma
criança tem medo de ir à casa de banho sem a companhia dos adultos, convém
começar a dar-lhe alguma autonomia: ficar à porta da casa de banho, depois a
meio do corredor, conversando, depois já na ponta, até se conseguir que vá
sozinha. Mas sempre perguntando se quer experimentar, encorajando-a e
felicitando-a se conseguir progredir. (E esperar que, nas primeiras vezes, seja
normal que ela venha a correr com metade do chichi feito e metade a sair por
fora!!! Mas nunca a penalizar por isso!!) Conseguir vencer o medo é motivo para
elogio, não para recriminação por qualquer aspeto prático. É importante
ajudarmos o outro a vencer o medo mas nunca o expormos a mais do que ele
consegue aguentar! Além disso, o medo é um sentimento íntimo e é assim que deve
ser abordado. Não deve ser um motivo de gozo nem de conversas vãs.
Os graus em que o medo se expressa
são muito variáveis, desde uma leve sensação de cautela e receio até às fobias
e estados paranoides, estes sim, já muito graves.
Nesta semana de Halloween fica, assim, a sugestão: Não deixe que os seus medos o
assombrem...Enfrente-os com a melhor luz de todas, aquela que é renovável e não
custa nada nem é debitada em faturas no final do mês: chama-se lucidez… que é
outra espécie de coragem!
E às vezes, para a ganharmos, não há
mal nenhum em pedirmos ajuda aos outros, aos amigos, familiares, pais, companheiro/as,
ou até ao cão ou periquito se preciso
for, pois o principal é ter junto de nós alguém que verdadeiramente nos dê
força e confie que somos capazes.
Porque somos!!!...
Adorei. Foi inspirador e vai ajudar-me a pregar grandes sustos a alguns medos bem profundos.
ResponderEliminarObrigado.
Isabel Sá.