sábado, 29 de janeiro de 2011

Terra redonda...estradas direitas!!!!

-Oh mãe…Eu sei que a Terra é redonda…mas as estradas são direitas! Como é possível????

A pergunta foi do Tigas…A perplexidade foi minha!!!!
Como é que esta amostra de gente, este pirralhito de 4 anos, de pijama do Bob – O Constructor de 1,10m vestido, à beira do sono, de olhitos quase a fechar após ouvir a quarta história da noite, me vem com esta pergunta digna de um Cristóvão Colombo, de um Magalhães ou de um Vasco da Gama????
Na verdade, tínhamos exactamente estado a falar de…exploradores!!! Mas de exploradores completamente diferentes, não destes que se lançam aos monstrengos, que passam para lá do Bojador e para além da dor (como na sempre maravilhosa e deslumbrante Mensagem de Pessoa).
Na sequência de uma história sobre uns meninos que tinham ido fazer um piquenique, acabámos por combinar que, no dia seguinte, e na condição de fazer bom tempo, isto é, pouco vento, menos pingos e menos frio, iríamos fazer um piquenique à Arrábida.
A saída, sempre tão comum noutras estações, já vinha a ser adiada essencialmente devido a uns quantos senhores virús e donas bactérias que ousaram meter-se no caminho (e, mais propriamente, nos órgãos de função linfopoiética, tipicamente em forma de amêndoa, situados à entrada da garganta comummente designados por amígdalas embora ache mais engraçado designá-los eruditamente por tonsillas) dos…pequenotes.
De qualquer forma, sacrificadas que estavam, nos últimos dias, as duas miniaturas de gente (vulgo Tigas e Bibas!!!) à forçada retirada do ar-livre, circunscritas  à clausura do condomínio ou, até, nos dias de febre  altíssima, às quatro paredes do quarto, era mais do que justo uma saída comme il faut!!!!
O piquenique visualizava-se uma sugestão perfeita, principalmente porque é sempre acompanhado de uma palavra que este trio adora: Aventura!!!
Pusemo-nos logo a imaginar… Se chover, procuramos uma gruta para nos abrigarmos!!!! (E pensam logo os caríssimos “leitores”: não seria mais fácil um chapéu-de-chuva??? Seria…mas não é a mesma coisa!!!!:)
E se vier um trovão?- pergunta o Tigas.
-Oh, mãe, eu tenho muito medo de ver um dragão!!! – diz a Bibas.
-Não é Dragão, Bia, é trovão! – ri-se e esclarece o Tiago.
-Oh mãe, como é que surgem os trovões? – pergunta o Tiago.
Penso na questão. Pondero uma resposta animista a fim de a mesma ser convenientemente percebida pelos meus dois ouvintes que provavelmente ainda se encontram no estádio pré-operatório do desenvolvimento cognitivo.
Penso em responder:
“Filhos, os trovões aparecem quando duas nuvens, que estão muito cinzentas por terem tanta água dentro, dão um beijinho ou vão uma contra a outra, zangadas!”
Depois, questiono o que ponderei: “Dão um beijinho ou vão uma contra a outra, zangadas?” Mas o que é que eu lhes estou a ensinar em termos de conhecimento das relações amorosas e/ou interpessoais? Que dar um beijo ou zangar-se produz o mesmo efeito? Um choque, um raio?! Bem, na verdade, é…verdade!!! Ou pode ser verdade!!!! Raios (literalmente!!!), isto de educar é mesmo difícil.
E volto a re-ponderar: já sei que se lhes respondo isto, eles vão logo perguntar: Então como é que as nuvens dão beijinhos se não são pessoas (Tiago) e se não têm boca (Bia)?
Ou, então, perguntam: mas por que é que elas se zangam uma com a outra? Por que é que elas estão cheias de água? Como é que elas bebem tanta água? (Bia) – ( já agora, um parênteses: a Bia tem uma teoria muito gira para o facto de chover. Segundo ela, chove porque as nuvens, às vezes, quando está muito calor, ficam com muita sede e depois bebem muita, muita água. E depois ficam com a barriga tão cheia, tão cheia que têm de deitar a água fora e então chove!!! – atenção, não vamos pensar que as nuvens têm sistema digestivo e/ou excretor para não perdermos a beleza da teoria!!!!! Afinal, a minha meteorologista ou geofísica só tem 3 aninhos!!!).
Continuando…
Pondero então outra resposta. E arrisco a (medianamente) científica:
- Filhos, quando estão a brincar com os Beyblades lembram-se do que é que acontece quando eles chocam um com o outro?
- Sim… - respondem ambos, em uníssono.
- O que é que acontece?
- Fazem barulho…E podem fazer faísca! – responde o Tiago, entusiasmado com tal ideia pirómana!
- É isso mesmo!!! Com as nuvens acontece quase a mesma coisa…As nuvens às vezes chocam umas com as outras, como fazem os Beyblades. E quando chocam, se estiverem muito carregadas de água a ponto de ficarem cinzentas, fazem um grande barulho… Nós ouvimos muito barulho, assim… a trovejar…(imito o barulho mas não arrisco a escrever a onomatopeia!!! Aceito sugestões!!!!). E depois surge uma faísca, um raio muito grande!!! O trovão é isso!!!!
E suspiro de alívio quando, expectante pela reacção, o petiz diz:
-Ahhhhhhhhhhhhhh, então é isso!!!! Quando as nuvens chocam cheias de chuva fazem os trovões, é, mãe???
Aceno que sim com a cabeça …a trovejar!!!!

Continuando… Voltando ao piquenique…
O nome do grupo destes piqueniqueiros é: Exploradores!!!!!
Então a Bia pergunta:
- Oh mãe, mas eu sou à mesma Bia Simões?
- Sim Bia…És a Bia, a Exploradora.
- Como a Dora, a Exploradora? – compara a pequenina que, por acaso, é mesmo parecida, tanto nas características físicas como psíquicas, com ela!!!!
-Exactamente, filhota!!!!
-E posso levar a minha mochila e um mapa?
-Claro!!!
E assim vamos planeando a saída do dia seguinte, na esperança que não haja raios nem coriscos que nos impeçam de ir piquenicar… E, se houver, havemos de arranjar um carro-gruta para nos abrigar!!!!

Escusado será dizer que, ainda a 1\4 do plano e já a Bia não me ligava nenhuma, à conversa que estava com o João Pestana, a caminho do vale dos Sonhos.
O Tigas, esse, não lhe dá conversa!!! (Ao João Pestana, entenda-se!). Na verdade, e por características de personalidade, o Tigas só dá conversa a quem conhece muuuiiito bem (e desde que nasceu, ou melhor, ainda era um feto – uma vez que estava quase sempre a dar ares da sua graça de futebolista, andebolista, tenista, ciclista, etc.)e nunca foi muito à bola com o João Pestana visto que detesta dormir.
 O seu lamento todas as noites é: Mas por que é que a noite demora tanto!!!!! Eu não quero saber da Lua, nem das estrelas, nem de nada disso…Eu quero é que seja de dia para estar sempre a brincar!!!).

Fui, então, fazendo o plano da “aventura” com o "Tiago – o Explorador", que estava muito curioso em relação aos caminhos por onde iríamos, o que é que podíamos encontrar, etc, etc. Até que os olhitos do explorador, de binóculos já postos na imaginação, começam a fechar-se paulatinamente…

E eu suspiro mais uma vez e penso…"Já está, finalmente!!! Finalmente vou ter algum tempo para mim, para ler um bocadinho, para escrever um bocadinho, para passar pelo face só para matar saudades dos amigos que, a não ser na realidade virtual, não tenho tempo de ver." Olho para o relógio e, mesmo antes de me escandalizar com o avançado da hora (24.35h), pergunta-me o Tigas-Colombo com a pestana muito aberta:

- “Oh mãe, eu sei que a Terra é redonda…Mas as “estadas” são “dieitas”…Como é possível??”
Eu, com mais vontade de lhe perguntar como é que era possível ele ainda não estar a dormir do que de lhe responder ao paradoxo, lá suspirei pela terceira vez e concentrei-me numa resposta aceitável para o petiz:
“Oh filho…Essa é mesmo uma boa pergunta…Mas tu já devias estar a dormir…O que é que achas de ires pensando na resposta enquanto dormes e amanhã tentamos os dois responder, pode ser?”
- Oh mãe, mas como é que eu penso enquanto estou a “dormi”???? (O Tigas ainda não diz os “erres” antecedidos de consoantes e vogais, tipo o Cebolinha da Turma da Mônica, com a diferença que não os sublstituí por “l”. “Esclalecido”)
“Raios” -  pensei eu – “ao tentar fugir do problema meti-me noutro!!!” Tu já sabes, Mónica. Não fujas, confronta!!! É mesmo caso para se dizer: Quem se mete por atalhos, mete-se em trabalhos!!!
Que berbicacho!!!
Vamos lá, Mónica, coragem mamã!!!!
Arrisco a ciência, mais uma vez… O puto que se desenrasque!!!! (E não é que ele é mesmo desenrascado!!!!)
-Tigas, tu quando dormes não deixas de pensar…Por isso é que sonhas, não é? Tu já contaste muitos sonhos que tiveste!!! Isso quer dizer que tu também pensas quando estás a dormir!!! Pensas é de uma maneira um bocadinho diferente daquela quando estás acordado!
- Oh mãe, mas os sonhos são ideias esquisitas. E eu não “quéo” “tê” ideias esquisitas. Eu “quêo”” pensá” bem, “tas” a entendê, mãe???? (este discurso, com tantos erros ortográficos, já parece um discurso à moda do facebook – na verdade, vê-se lá tanta, tanta gente com idade cronológica adulta mas com uma idade mental tão infantil… Direi mesmo da idade do Tiago!!! Ou da Bia!!!)
-Acho que sim (!!!!!!!!!!!!!!!).
- Oh mãe, diz-me lá “poque” é que as “estadas” são “dieitas” se o Mundo é redondo…
- É uma pergunta difícil de responder filhote – confessei eu – mas vamos pensar os dois… Imagina que... (vou buscar uma bola saltitona)…Faz de conta que esta bola é o Mundo… Não, espera…Esta não dá, é muito pequenina…
(Passam cerca de dois minutos e regresso com uma bola nº 4 de futebol…)

- Faz de conta que esta bola é a Terra… Estás a ver o Tarzan (era o bonequinho mais pequenino que encontrei – fui buscá-lo, tanto em sentido literal como figurado,  à selva!!!! – à Selva do Tarzan – os miúdos conhecem bem!!! E os publicitários também!!!). Se o Tarzan quiser ir daqui até aqui – percurso de cerca de 1cm – achas que ele vê a “estrada” direita ou inclinada/arredondada?
- Acho que vê direita.
-Pois, também acho. À medida que o Tarzan anda, vai sempre ver a estrada direita. É o que ele vê… Mas ela não é bem direita… Ele é que a vê assim... É como nós quando vamos por uma estrada em linha recta…Quer dizer, quando vamos por uma estrada que nos parece…direita!!! (já estava mesmo atrapalhada!!!)…
- Nós vemos assim mas se “calhá” não é assim de “vedade”?
- É isso, filho – respiro de alívio pelo “Tiago-112”me ter salvo da atrapalhação mas, contudo, não completamente segura da minha explicação – Amanhã a mãe mostra-te um livro e pensamos melhor, está bem?
- Sim, mãe…Mas… “Poque” é que o Tazan cai da bola quando anda e nós não caímos do Mundo “paa” o espaço?
- Boa pergunta… É por causa de uma força que se chama força da gravidade que é muito, muito forte e não nos deixa cair para o espaço…A mãe depois explica melhor, filho…Agora vamos dormir…
E o Tigas lá adormeceu… Por certo, já cansado das explicações a meio-gás da mãe-pestana!!!!
Mas, enfim, é o que se consegue dado o adiantado da hora e com a gravidade a empurrar-nos as pálpebras em direcção ao…centro da Terra!!!









Nota: Aceitam-se sugestões para explicações de Física para 4 anos de idade e geofísica para os 3 anos!!!! J (Buli, estás convocado!!!!)

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Canelas, caretas e...o amigo Ben!

Advertência prévia: aconselha-se os leitores mais sensíveis a não lerem este artigo/post pois o mesmo contém referências eventualmente…chocantes!!!

Nos últimos dias dei por mim a redefinir alguns conceitos que tinha como certos e devidamente aprendidos nas lições de anatomia... Além do mais, dei por mim a ter três amigos em cima da mesa da cozinha que nunca imaginara vir a ter…

Eu explico…

A minha Bia tem estado, nos últimos dias, com uma valente gripe…Valente MESMO!!! Tão valente que a deixou de rastos!!! E olhem que a Bia não é de se ficar!!!! Cama, só mesmo para dormir e…dar saltos quando a mãe não está a ver!!!!

Acontece que a pequenina ficou mesmo de cama, prostrada, sem se mexer a não ser para recusar a medicação. Qual ben-u-ron, qual Actifed, qual Brufen, qual quê???!!!! Mesmo com 39,6 de febre lá colocava a mãozita à frente da boca e virava a cara!!! Nada de xaropes, nada de comer, nada de nada! Claro que aqui a mamã já estava ligeiramente (que advérbio de modo eufemisticamente enganador!!!)…DESESPERADA!!!!

Então, vou até à cozinha mas, a 1\3 do caminho, dou uma fortíssima (este superlativo sintético não é nada eufemístico!!!) CANELADA numa mini-cadeirinha que estava despropositadamente a um canto do corredor… (Acrescente-se, para se perceber bem a cena, que eram 4 da manhã, estava tudo escuro, a (maldita!)cadeirinha era de madeira bem dura e vértices nada suaves!)…Auuuuuuuuu… O uivo de dor apropriava-se à noite de Lua Cheia!!!

Esfrego a canela com velocidade próxima da da luz (que não havia!!!) e redefino imediatamente o conceito de canela!!!! Qual face anterior da perna, qual quê???!!!

A canela não é mais do que um doloroso instrumento para encontrar peças soltas de mobiliário no meio da escuridão!!!!

Essa sim, é a definição mais cruelmente verdadeira de “canela”!!! (Nos saudosos tempos da preparatória em que passava os intervalos a jogar à bola, tinha outra definição de canela mas é proibido dizer porque senão os leitores do género masculino lá se vão vangloriar com mais uma prova de que as raparigas no futebol só dão canelada!!! É mentira, meus senhores!!! O problema é que os rapazes têm a mania de se pôr à frente e não as deixar passar!!!!)

Bem , retomando…  (Agora já com a luz acesa e público a assistir!). A Bia levantou-se, entretanto, da cama (possivelmente com medo dos lobos!!!), veio até mim e…desata-se a rir!!!! - “Do quê???? Mas do que é que a minha filhota se está sadicamente a rir????”-pensei eu, denunciando, caninamente, uma certa raivinha no cerrar dos dentes …
 E a bruxinha marota lá deve ter lido o meu pensamento e disse, em risota: “Tu fazes caretas muito giras!!!! Faz lá outra vez!!!”. Respiro fundo…Muuuuiiiiiito fundo. Volto a respirar… Calma Mónica!!! Mais uma careta…E acabo por me rir… E rimos as duas…

Faço as pazes com a cadeira, não sem antes a colocar no quarto aonde ela pertence.  Redefino o conceito de careta que, à simples contracção do rosto, acrescento: “…resultante de canelada dada e recebida (de acordo com as leis da Física!) por inusitada peça de mobiliário e/ou riso maroto de contornos sádicos provindo de filhota com 39,6 graus de febre, 3 anos de idade, 1 metro de comprimento e 15, 4 quilos de peso)…

Seguidamente, pego na mão da Bia e vamos até à cozinha.  E é aqui que entram os meus três amigos!!!! Como a necessidade faz o engenho, peguei na mãozinha dela e desenhámos o amigo BEN na caixa do xarope ben – u – ron, o amigo FED na caixa do Actifed e o amigo BRU na caixa do Brufen!!!
E contei-lhe então a história (com muitas caretas à mistura!!!) dos três amiguinhos da Bia que andavam às caneladas (não sei onde é que terei ido buscar esta ideia!!!! J) para ver qual é que ia parar à colher que, por sua vez, ia parar à boquinha da Bia… Os três amigos estavam a portar-se muito mal por andarem à canelada uns aos outros até que a Bia os pôs de castigo, cada um num canto da mesa.
Foi então que um deles pediu desculpa à Bia… Foi o amigo Ben!!! E como pediu desculpa, foi ele que teve direito a ir para a colher e, em seguida, para a boquinha da Bia… E lá foi o Ben, todo contente, pois ia ajudar a Bia a dar caneladas aos execráveis representantes da família Orthomyxoviridae (careta obrigatória quando se diz palavras destas!!!!)
Vitória, vitória, acabou-se a história!!!

(E a Bibas lá tomou o paracetamol!!!!)






segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Despedidas e...Interruptores!!!

Tenho pensado ultimamente em como as nossas relações, particularmente as afectivas, por vezes se assemelham tanto a interruptores… principalmente quando está na hora de desligarem de vez (ou não)!!!!
Na verdade, quando  nos apercebemos que uma relação está a chegar ao fim, seja por já se ter esgotado de tanto tempo em comum ou por não ter, sequer, realmente começado, começamos a funcionar como os interruptores: ligamos e desligamos vezes sem conta…
Será que, no fundo, estaremos à espera de uma luz ao fundo do túnel ou esperamos que a luz se funda de vez e, aí, possamos atribuir as culpas à fraqueza da lâmpada em vez de as atribuir, devidamente, à indecisão dos sujeitos que apagam e acendem, ininterruptamente, o…interruptor???!!!! Afinal, é tão humanamente vulgar culparmos algo ou alguém que não nós próprios!!!
Nas relações conjugais isto é ainda mais notório ainda que, de modo algum, notável! Mas é assim que somos!!! E, quando não nos decidimos, a lâmpada  é que paga!!!  Aqui a lâmpada pode ser uma metáfora para muita coisa!!!! Pode ser a metáfora da conta bancária (e da conta da electricidade é-o, literalmente!!!). Pode ser a metáfora da nossa dignidade pessoal!!! Pode ser a metáfora do nosso amor próprio…Mas a mais grave de todas é quando é a metáfora dos nossos filhos! Efectivamente, tal como um interruptor accionado repetidamente leva ao desgaste da lâmpada que acende ou desliga, também os filhos se desgastam quando os pais não se decidem se querem, ou não, desligar-se um do outro…
Penso que, muitas vezes, é por também eles (os pais!!!) terem tanto medo do escuro e do desconhecido que preferem manter a luz acesa!!! Mas é também com a luz acesa que se vêem os nossos defeitos, os defeitos do outro, os defeitos da relação!!! E aí, volta-se a apagar a luz!!! E quando se apaga a luz, vê-se o grande defeito da escuridão: esta não permite ver bem coisa alguma, nem as qualidades nem os defeitos!!! E a possibilidade de passar a vida às escuras mete mesmo muito medo!!! Então acende-se a luz e espera-se que os defeitos, por magia, se tenham tornado, durante a noite, em qualidades!!! Mas tudo permanece na mesma!!! E a vontade de tornar a desligar retoma o seu percurso, da alma à ponta dos dedos…
Entretanto, nem se olha para quanto estes dedos e esta alma se vão cansando, o quanto a lâmpada se vai gastando… e gastando…e gastando. Só que uma lâmpada gasta pode ser sempre substituída… os filhos e/ou o amor próprio não!!!
Se é verdade que, por vezes, se não desligarmos, se não deixarmos (quase) tudo para trás não vamos para a frente, outras vezes há em que é importante reparar os curto-circuitos e… voltar a ligar a corrente!!!
Acho que nunca saberemos o que é melhor… O que é melhor para cada um mas, principalmente, o que é melhor para todos… E, porque nunca saberemos, talvez o melhor seja tomar uma decisão, seja ela qual for… Só assim podemos evitar que a lâmpada se funda…de vez!!!


domingo, 9 de janeiro de 2011

(Des)Ligar...

“Quando eu disse ao caroço da laranja que dentro dele dormia um laranjal inteiro, ele olhou-me estupidamente incrédulo…”  Hermogenes


Somos sempre mais fortes do que aquilo que pensamos e mais capazes do que aquilo que acreditamos… O difícil é, acima de tudo, acreditar nisso… Vivemos presos ao familiar, ao conhecido, à rotina, mesmo quando essa rotina nos vai matando paulatinamente…
Na minha prática clínica tenho-me deparado com inúmeras histórias de vida que, se devidamente adjectivadas, ficariam para além do horrível… São, na verdade, e eufemísticamente falando, impressionantes. Mas de todas as histórias de vida que ouço contadas na primeira pessoa, impressionam-me particularmente as decorrentes de maus-tratos parentais e conjugais… Por várias razões, estes últimos, a par de me impressionarem pela sua recorrência, confundiam-me… Principalmente pela dificuldade que a “vítima” tinha em… desligar! Desligar-se do agressor, acabar com a situação, pôr um ponto final. Mas depressa aprendi que, nestas histórias, os desfechos são sempre pontuados com reticências…

Muitas razões são apontadas para argumentar a continuidade: há os filhos, as dificuldades (económicas ou não!), o pudor, a vergonha… E o silêncio permanece, o grito de dor emudece na garganta apertada, a inacção mantém-se.
Mas não devia ser exactamente pelos filhos que a motivação para mudar deveria crescer na alma? Passar da motivação à acção, da alma aos músculos, do pensamento à palavra?
E se pensarmos na questão: o que é que uma criança sente e pensa quando assiste a uma discussão que culmina num pai a cotovelar a mãe, a mãe a sangrar, caída entre sangue e lágrimas? O que é uma criança lembra? Porque, se é verdade que as feridas cicatrizam e as equimoses passam, as memórias não!!!! Ainda não inventaram  Pentosanopolissilfato de Sódio (vulgo Thrombocid) para “dissolver” as equimoses do coração!
Perante estas histórias, nunca há o que receitar a não ser uma grande caixa de auto-confiança para… desligar!
Isto porque, na verdade, o que estas mulheres (e muitas vezes raparigas) precisam é de acreditar que são capazes e não que lhes receitem um ansiolítico e um anti-depressivo que as deixe ainda mais passivas e permissivas, ainda mais indiferentes e anódinas.
Infelizmente, ainda não há anti-depressivos que previnam uma cotovelada no olho… Só mesmo uma grande dose de coragem e auto-confiança ajuda a prevenir equimoses decorrentes destas absurdas causas.

É verdade que nunca saberemos, ao certo, o que nos liga a alguém… Mas deveríamos saber, com toda a certeza, aquilo que nos deve fazer… desligar!!!


sábado, 1 de janeiro de 2011

Crises e Criações

"Criatividade é permitir a si mesmo cometer erros. Arte é saber quais erros manter." (Scott Adams)


O discurso predominante sobre o ano 2011 assenta na palavra "Crise". Vários são os adjectivos que surgem nas bocas da vox populi, todos pertencentes, diria, ao campo semântico de "Dificuldade"...In viva voce, ouve-se, lê-se e escreve-se que "vai ser um ano muito difícil", "2011 será terrível", "Agora é que vamos entrar na verdadeira crise", etc... Não duvido. Mas sugiro: Que tal tirarmos o "S" à palavra "CRISE" e transformá-la em CRIE??!!!

Sermos mais criativos em 2011 pode ser uma boa forma de viver as suas 8760 horas!!! Como Albert Camus referiu: "Criar é dar forma ao próprio destino."

Que sejamos, então, pelo menos, patrões do nosso destino em 2011 e não (des)empregados!!!! 


 E, já agora, "a própria criatividade consiste apenas em perceber o que já lá está" (Fitz-Gibbon)... Mas olhá-lo com outro olhar!!!!

Sabiam que os sapatos esquerdo e direito só foram inventados há pouco mais de um século? :)

Que 2011 seja, assim, um ano de menos "crises" e mais "criações"!!!