Du gleichst dem geist den du degreifst.*
Goethe
Viver pode ser um verbo simples… Fácil de conjugar, até. Com felicidade
leve. Daquela que existe só por se existir. Num mesmo Tempo. Num mesmo Espaço.
Na mesma humanidade. Para lá dos compromissos profissionais. Para lá das lutas
políticas. E religiosas. E profanas. E mundanas. E imundas.
Viver pode ser simples… Mas no atropelo dos dias, não é.
Viver chega-nos como um verbo ofegante,
carregado de pretensões insaciáveis, responsabilidades sempre urgentes e sempre
indeclináveis e a desapossar-nos, imagine-se, da essência dele próprio, ou
seja, da vida que nos pertence… Em suma,
chega-se-nos inconjugável…
Vivemos certos paradoxos que poderiam até ser curiosos se não
tocassem, por vezes, o bizarro: Se é verdade que, por um lado, vivemos numa contínua correria “vital” na qual engolimos dias, horas e minutos numa espécie de “fast-food daily-life” sem
disso retirarmos qualquer prazer essencial ou mesmo qualquer evolução
fundamental, numa espécie de retrocesso neodarwiniano, o certo é que, por outro, vivemos submersos numa espécie de ilusão neurótica de intemporalidade.
Todos corremos mas, paradoxalmente, todos adiamos. Todos adiamos afectos, todos adiamos sonhos, todos adiamos vidas exactamente porque vivemos nessa absurda ilusão de que lá para a frente, não sabemos quando nem onde nos esperam dias ou minutos gourmet. E nisto, conscientemente insatisfeitos mas funcionantes, impotentes para mudar o presente mas com uma espécie de ilusão omnipotente em relação ao futuro, vivemos a adiar-nos, a adiar calmas, gentilezas, demoras no estar, a adiar o tempo e os tempos para os outros, as conversas, os abraços, um pousar de silêncios e olhares sobre um mesmo pedaço ou instante do mundo, os sorrisos sem horas contadas, o amor até. Vivemos a adiar o melhor da nossa humanidade ad eternum, a refugiamo-nos nas nossas vidinhas esgotantes e esgotadas, apressantes e apressadas, cada vez mais diminuídas dentro do cansaço dos relógios e dos batimentos cardíacos para lá de acelerados que, tantas vezes, rebentam e ferem a alma de quem mais gostamos... Vivemos, tantas e tantas vezes, contra-natura, contra nós e contra os outros e, sobretudo, contra o melhor que podemos ser.
Este paradoxo leva a que, muitas vezes, ao invés de crescermos por dentro e nos prolongarmos na simplicidade e autenticidade dos afectos, nos diminuamos e isolemos na complexidade das zangas que, essas sim, adiam e afastam, por vezes aburda e irreversivelmente, o melhor de nós e que, no fundo, se comparadas com o tanto que temos cá dentro só nos deveriam serviar para aprender que a verdadeira zanga que vale a pena é...zangar-nos com a própria zanga!
Todos corremos mas, paradoxalmente, todos adiamos. Todos adiamos afectos, todos adiamos sonhos, todos adiamos vidas exactamente porque vivemos nessa absurda ilusão de que lá para a frente, não sabemos quando nem onde nos esperam dias ou minutos gourmet. E nisto, conscientemente insatisfeitos mas funcionantes, impotentes para mudar o presente mas com uma espécie de ilusão omnipotente em relação ao futuro, vivemos a adiar-nos, a adiar calmas, gentilezas, demoras no estar, a adiar o tempo e os tempos para os outros, as conversas, os abraços, um pousar de silêncios e olhares sobre um mesmo pedaço ou instante do mundo, os sorrisos sem horas contadas, o amor até. Vivemos a adiar o melhor da nossa humanidade ad eternum, a refugiamo-nos nas nossas vidinhas esgotantes e esgotadas, apressantes e apressadas, cada vez mais diminuídas dentro do cansaço dos relógios e dos batimentos cardíacos para lá de acelerados que, tantas vezes, rebentam e ferem a alma de quem mais gostamos... Vivemos, tantas e tantas vezes, contra-natura, contra nós e contra os outros e, sobretudo, contra o melhor que podemos ser.
Este paradoxo leva a que, muitas vezes, ao invés de crescermos por dentro e nos prolongarmos na simplicidade e autenticidade dos afectos, nos diminuamos e isolemos na complexidade das zangas que, essas sim, adiam e afastam, por vezes aburda e irreversivelmente, o melhor de nós e que, no fundo, se comparadas com o tanto que temos cá dentro só nos deveriam serviar para aprender que a verdadeira zanga que vale a pena é...zangar-nos com a própria zanga!
Mas a verdade é que se vivermos ancorados nunca chegamos perto de nenhum horizonte senão o do próprio medo que, ele sim, nos encurta e escurece cada vez mais a retina e a alma. E a vida não só tem muitos futuros como pode ter muito mais vida para lá da vida que lhe damos. O verbo viver é,
apesar de singular, cheio de pluralidades, ainda que de duração única e limitada… E é, por
isso mesmo, que faz todo o sentido agarrar, com um genuíno olhar de maravilha,
cada raio de sol que nos vem parar entre as mãos.
Porque o que realmente faz demorar uma vida, seja dentro de
um relógio seja dentro de um coração, é a dimensão da nossa vida interior…E
essa, constrói-se quando verdadeiramente convivemos com o essencial…Constrói-se
nos tempos reais da relação com os outros.
Constrói-se na experiência de comunhão. De bondade. De autenticidade. Constrói-se sempre que nos comovemos, sempre que amamos, criamos,
sofremos, partilhamos, alegramos, entristecemos, falamos, silenciamos,
reconstruímos, melhoramos e crescemos dentro do nosso tamanho… Viver pode pois,
e deve ser, um verbo simples… De sol feito. Entre as mãos.
*Assemelhas-te ao pensamento que concebes.