segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Ventre de Mulher- Mãe

The best thing about me is you...



Há plurais que nos tornam mais singulares…

Posso dizê-lo, já sem o receio dos lugares comuns, que a minha singularidade como mulher cresceu quando do meu ventre nasceu vida…

Ter uma vida a crescer dentro de nós é algo tão múltiplo e, ao mesmo tempo, tão singular que se torna, por vezes, impermeável aos símbolos verbais…

É, acima de tudo, uma vivência de intimidade tão densa e profunda que só cabe no tamanho infinito da palavra Amor…
Efectivamente, quando uma Mulher nasce Mãe sente nascer em si a dádiva do corpo em Amor para em Amor outro corpo nascer para o Mundo.

E não é apenas o ventre que se expande… É também o coração…

Porque é também aí que uma criança nasce…no coração!!!!!

Razão tinha a minha princesa Bia quando desenhou, na creche, um desenho para o Dia da Mãe e colocou dentro da minha suposta figura uma bebé, não no lugar da barriga, mas no lugar do coração…

 E disse à Educadora:

Esta é a minha mãe comigo lá dentro. Nós estamos sempre as duas. Uma mãe é uma pessoa que dá beijinhos bons que cheiram bem, que dão para adormecer ou para acordar e que traz sempre bebés no coração!!!!

Neste parágrafo, a Bia, com a sabedoria pueril e terna dos seus três anos, conseguiu resumir o mistério e o milagre da maternidade inteira…
Uma mãe é alguém que, vá para onde for, tenha a idade que tiver, levará sempre o seu filho no coração.

Porque este amor é um amor tão imune ao tempo e ao espaço que, tenha o seu bebé a idade e o tamanho que tiver, ele caberá sempre nessa casa de infinitas assoalhadas e nesse espaço cardíaco infinitamente elástico e musculado.

E ela dar-lhe-á sempre o mesmo beijinho bom e cheiroso… Seja para o acordar para a vida… Seja para o adormecer, talvez porque o seu pequeno esteja hoje cansado das brincadeiras ou das partidas que esta lhe pregou…

Quando de um ventre nasce uma vida é como se no corpo inteiro se sentisse o nascer do Sol… E há então outras estrelas de uma Via Láctea desconhecida que se acendem dentro de todos os compartimentos da alma e em todos os corredores e orifícios do coração e muito dificilmente se apagam, independentemente da espessura das noites lá fora…

É como uma vela em combustão constante dentro da alma, sempre disposta a acender quaisquer outras que se apaguem pelas correntes de ar da vida…

Talvez por isso uma mulher, a partir do momento em que dá à luz, ganhe outra luminosidade. Uma luz própria, como as estrelas.
Triste é que, por vezes, a tentem apagar ou a escondam na sombra e façam com que elas próprias se desvalorizem a ponto de se ensombrarem…
Uma mulher, quando é mãe, ganha outra dimensão do feminino. Não me parece que perca sensualidade como por vezes se ouve. Não me parece que perca encanto. Não me parece que perca interesse. Não me parece que perca feminilidade.

Pelo contrário. Ganha. E ganha outro fascínio mas que só quem tem o olhar treinado, o talento devido, as lentes próprias consegue admirar.

Infelizmente, ainda são raras essas lentes. Exigem a espessura da inteligência, da compreensão de toda a profundidade do denso e misterioso universo feminino que tantas vezes assusta e intimida.
Infelizmente, também,  muitas mulheres sentem-se corrosivamente diminuídas a partir do momento em que são mães.
Como se, pelo facto de passarem a ser mães, se anulassem como mulheres. Porque, de facto, é assim que muitas vezes os outros as tratam, é esse o rótulo aplicado. Nada mais errado. Nada mais injusto. Nada mais perverso.

O ser mãe não é um decréscimo da feminilidade. É um superlativo.

Uma mulher que é mãe é também uma mulher que conhece, na primeira pessoa, o verdadeiro significado das palavras luta, amor, paz, dádiva, fé, coragem, regeneração, metamorfose, afecto, infinito, milagre.

E isto é de uma grandeza enorme. Isto vale mais que
cremes para as rugas, operações plásticas, ausência de celulite, estrias e afins… E não há que ter vergonha. Pelo contrário.

Um bom creme encontra-se em qualquer loja mas uma boa mãe não. E, isso sim, é um ícone da verdadeira beleza pessoal e mesmo feminina… é uma bandeira, um estandarte!!!!

Tantas vezes se diz também que o próprio corpo de uma mulher fica destruído depois de ter filhos…

Destruído????!!!!
Meu Deus!!!! Estamos a falar como se se tratasse de um acto de guerra, como se um corpo tivesse sido mutilado…

Não estou a negar que as dores são quase insuportáveis…Mas têm um propósito, um motivo: gerar vida. Para mim, o que é insuportável é o sofrimento que parece não ter propósito nenhum, que não leva a nenhum lado a não ser, muitas vezes, a destruição. Esse sim, dói  verdadeiramente.

E não é um acto de guerra. É de paz. A vida não está contra nós. Está só e apenas a nosso favor. A nosso e dos nossos pequeninos…

O corpo transforma-se???
Claro que se transforma. AINDA BEM!!!! Pior seria se não se transformasse!!!! Aí seria impossível gerar uma criança, alimentá-la, dar-lhe vida, espaço, casa, sala de brincar, quarto e cozinha dentro de nós.

Se a anca mais larga, o peito mais descaído, o ventre mais saliente forem a prova que se foi capaz de conceber esse milagre de trazer cá dentro, durante nove meses, um ser humano, de o alimentar apenas com o nosso leite durante mais seis meses, qual é a vergonha???? Em que é que esse corpo é menos bonito ou menos feminino? É um corpo que teve o dom de se adaptar a uma vida… É um corpo que se regenera… É UM CORPO QUE FUNCIONA… Isso não é belo????

Se não tivéssemos um corpo capaz de conceber, infértil, isso sim, não seria verdadeiramente triste, motivo de infelicidade?

E quantas vezes não é exactamente pelo facto de estarem zangadas com o seu próprio corpo que muitas mulheres o maltratam ainda mais… Nada nos é dado de mão beijada e se não gostamos do corpo que temos ele também não gosta de nós.

Se não o beijamos, ele não nos beija. Se não o mimamos, ele não nos mima. Se o intoxicamos com má comida, suplementos de banha da cobra que prometem milagres de emagrecimento, ele fica envenenado, incha. Se não o movemos, ele paraliza. A forma de lhe agradecermos por nos ter ajudado a dar à luz é ajudá-lo a brilhar… É pô-lo em movimento, dar-lhe os mimos que ele gosta: ginástica, fruta, água, amor, alegria e natureza!!!!!

É preciso, pois, amar o ventre e o coração que temos… Não interessa a forma…Interessa a função…

O meu ventre foi, durante nove meses, o casulo de duas lindas borboletas que os meus filhos são hoje… Borboletas risonhas de espanto, coloridas de sonhos, curiosidade, encanto e vida, com olhares sempre saltitantes e voadores,  longas pestanas escuras e asas longas como as dos anjos.

O meu corpo, a minha força, a minha alma,dedicaram-se e dedicam-se, em grande parte, ao cumprimento da promessa de conforto calmo e feliz que o meu ventre lhes prometeu durante nove meses, quando eles ainda não voavam e cresciam dentro de mim…

Sim, porque dentro de mim existia um oceano e a parede do meu útero era um universo cujas estrelas eram os pontos cintilantes dos ecos da minha voz, dos meus risos,  da minha alegria por os ter a cintilar dentro de mim…

O meu ventre foi um país misterioso onde não havia lágrimas nem sede nem fome, onde cresceram príncipes sem medo e princesas que são felizes  na eternidade dos momentos sem a mentira do “para sempre”…

Dele floresceram olhares suaves como pétalas, sorrisos encantados e cheirosos como morangos e bochechinhas de cereja…

Por isso, o ventre de uma mulher, deve ser respeitado, cuidado e amado…

Por ela…Pelos outros…

O seu ventre, tenha a forma que tiver, é o seu maior milagre…

Porque é aí, nesse ninho suave e quente feito de uma perfeição sem nome, que se gera a vida que justifica a vida.

Porque é também aí que se guardam…corações!!!!







sexta-feira, 17 de junho de 2011

O teu Nordeste...

Querido Pai…

Toda a terra da minha alma estremeceu em mim esta manhã quando soube  tinhas ido para o hospital… Talvez porque a doença seja um território tão raro em ti, a ponto de quase o desconhecer,  senti o tumulto do susto e do medo.
Senti, epicentralmente, a fragilidade do adquirido, senti o quanto tu, sempre tão forte, tão determinado, tão presente na minha vida, poderias um dia, um dia, qualquer dia, estar ausente…
A ideia arrepiou-me como uma brisa de Janeiro em pleno Junho. Tu, que, de mão e braço e coração dado à mãe, sempre soubeste ser o meu Norte.. E Sul e Este e Oeste…Tu, que sempre foste a minha referência de vida, de pensamento, de valores...Os meus pontos cardeais...e vitais. E que soubeste, como ninguém, personificar, com a tua carismática e magnífica personalidade, o TEU (e, mais tarde, NOSSO) NORDESTE açoriano…
O Nordeste dos teus Açores…O Nordeste da tua amada e natal ilha de São Miguel…
 Porque só tu, tal como o Nordeste único que  me soubeste mostrar em cada quilómetro quadrado de calma, és a junção do esplendor das altas arribas da costa nordestina, medidas com o olhar no adro da Igreja da Achada, quando revelas toda a tua sabedoria, lucidez intransigente e clarividência, aliada à tua demorada ternura e extrema delicadeza, toda ela tão condizente com os entardeceres no porto da Caloura…
Por vezes, és reflexivo, contido, denso e silencioso, como as extensas matas de Criptomérias da Tronqueira…
Outras vezes há em que te revelas tão sorridente, em que ris tanto, sorris e encantas com as palavras com uma boa-disposição tão social e contagiante que faz lembrar os bailados das gaivotas na sua pesca vespertina. Ou mesmo o sonoro e alegre regresso aos ninhos dos canários, tentilhões e melros aquando do ocaso na zona do Castelo Branco.
Raramente, mas só muito, muito raramente, te vejo irritado. Só ferves como as fumarolas das Furnas quando te apercebes de alguma injustiça…Particularmente de patrões para com trabalhadores… És uma pessoa justa e bondosa até à medula, pai… E é tão injusto que estejas agora a sofrer…
Sei que não posso evitar nem amenizar essas dores tanto como gostaria… E sei que, por agora, terás que repousar muito…Se não, sabes o que me apetecia???? Pegava em ti e na mãe (depois dela acabar o último exame) e nos teus netinhos e embarcávamos para São Miguel… Gostava imenso…Mas não posso porque tu não podes…
Como também não posso trazer até ao teu olhar os 745km2 de São Miguel.
Mas, em alternativa, levar-te-ei hoje, além de revistas para entreteres as vistas, a certeza que és o melhor Pai do Continente e Ilhas!!!!
E levo-te o que guardo ainda em mim do teu, que é já nosso, Nordeste!!! Levo-te as memórias do mar que lá se interrompe nas escarpas… Levo as ruelas…Levo os lugares, cantos ,recantos e momentos raramente inclusos nos roteiros turísticos.

Levo o cheiro forte, persistente, a mistura de dez, cem, mil essências… Levo as manchas esparsas de poejo, macela, murta, giesta… Levo as Uvas-de-cheiro que sabem ao cheiro que lhes dá nome…Levo as casas solarengas, algumas quase dos finais do Séc. XVIII…Levo as tuas citações sempre pertinentes do cronista Gaspar Frutuoso.
Levo as Lagoas. Levo o olhar encharcado de espanto.

E levo o que sempre me ficou e agora se me reinventou… O que só os Açores têm e que deveria ser Património da Humanidade!!!! Aquele azul e verde!!! Aquele azul e verde que ficam para sempre na retina do olhar e se multiplicam no coração da memória em reinvenções de harmonia cromática…Combinações de verde que só se encontram na alma e no olhar dos Açores… E nas pontas da Madrugada e do Sossego.

Levar-te-ei tudo isso para saberes o tanto e tão belo que tens deixado em mim…Fora o resto…Que é tanto!!!
 Adoro-te Pai!!!!
E melhora depressa!!!! Temos ainda muitas viagens para fazer!!!!
Até já!!!















sexta-feira, 3 de junho de 2011

Sem palavras...

Ex abundanctia enim cordis os loquitur…

Há pessoas assim… Raras…Muito raras… Pessoas que nos deixam sem palavras… Pessoas que nos deslumbram, encantam, fazem rir e sorrir e voltar a rir, pessoas que nos emocionam pelo tanto que nos dão e pelo tanto que…são!!!!
Pessoas que nos fazem sentir vontade de sentir... E vontade de dizer…tanta coisa... E, talvez por isso mesmo, nos esgotam adjectivos antes mesmo deles ousarem vibrar as cordas vocais… De facto,  quando o deslumbre é grande, a palavra fica sempre aquém… É a vida que vale… O momento…A fotografia tirada com a alma…com o corpo…com o coração… com o nosso ser inteiro…
As pessoas que nos deixam sem palavras são essas raras pessoas que nos falam com uma musicalidade única, uma prosódia diferente… Terna. Sábia.

São essas raras pessoas que às paisagens já gastas, lhes acrescentam outras cores, outras flores, outros contornos…Que lhes acrescentam planícies, se estivermos cansados de subir montanhas, que lhes acrescentam vales, se quisermos rebolar na relva, que nos fazem um convite aos olhos para nelas voltarmos a passear…

São essas raras pessoas que, tão natural e espontaneamente, nos puxam a alma para dançar, que nos entrelaçam os dedos ao coração e que dão às razões da vida outra nova Razão…
São pessoas que sabem Estar de uma forma maravilhosa… Que não precisam de se fazer notar para se fazerem distinguir… E são, de facto, muitas vezes nos gestos mínimos,  pessoas tão distintas… Na forma como estão com os outros e com elas próprias…  Na forma tão bonita e simples e elegante e generosa e bondosa como tratam os outros… Na forma como são…Como sabem ser… Em todos os momentos… Nos momentos triviais ou complexos… Seja num simples pedido de maionese ou debaixo de uma ameaça de temporal e inundações… Mesmo aí, a genialidade mantém-se… a calma…o cuidado…a preocupação com o outro…a meiguice…a boa disposição… Tudo, enfim, o que as torna tão…Especialmente Speachless!!!!
São pessoas de alma e olhar cheio… Um olhar denso, por vezes onde cabe todo o Atlântico…Outras vezes, um olhar tão transparente e terno como as ondas que se espraiam na Arrábida…
São pessoas de alma plena que, em breves momentos, nos revelam certezas de uma vida inteira…

São pessoas que nos aparecem na vida como que por milagre…Podem ficar ou não… Talvez isso não seja o mais importante… Importa que apareceram…Que estão…Que, quando estão, nos dão momentos que têm o sabor da eternidade.  E que, quando estão, têm uma capacidade única de nos deixar uma maravilhosa sensação de paz … Tão diferente…E tão simplesmente por…existirem. É uma sensação muito boa.  É revelador quando estamos perante alguém com quem sentimos uma sensação imediata de que não é preciso acrescentar nada…nem tirar nada…nem mudar nada… Está lá tudo.

Isto impõe uma breve reflexão porque, efectivamente, tantas relações há em que as pessoas parecem mais decoradores de interiores do que propriamente parceiros de uma relação: sempre a tentar mudar as peças do sítio, sempre a tentar mudar o outro…sempre em permanentemente estado de insatisfação… nada mais triste!!!! Quantas e quantas vezes se muda o exterior numa necessidade imensa de mudar o interior… Tenta-se mudar o outro incessantemente, moldá-lo aos nossos desejos quantas vezes insensatos…Mas será que o outro que estará assim tão mal????? Será que o outro precisa de tanta remodelação????

Não será que seremos nós meros arquitectos frustrados que aprisionamos o outro ao nosso próprio projecto interminável? Quantas vezes, nas relações, não se age absurdamente como se fossemos um náufrago do Titanic em que, mesmo sabendo que o navio está a ir ao fundo, só nos preocupamos em arranjar a disposição das espreguiçadeiras???? Preocupamo-nos com a aparência exterior, em pôr tudo bonito aos olhos dos outros, negando que o próprio navio já está no fundo… Infelizmente, há tantas relações assim… que se vão prolongando por ser tão difícil saber qual o meridiano que separa o normal da insensatez, qual a linha do equador que separa o positivo da alienação… Felizmente, mesmo uma relação pode ser um segmento de recta e não uma recta ad infinitum…Em algumas relações, é bom que assim seja… Outras há que são eternas… Independentemente do tempo que durem…

Ainda em relação à disposição das espreguiçadeiras…
Acontece que estas raras pessoas estão-se pouco importando para as espreguiçadeiras… na verdade, elas salvam pessoas!!! E ensinam a salvar pessoas!!!! Aliás, estas raras pessoas que nos deixam sem palavras estão sempre a ensinar uma grande lição: são as pessoas que importam!!!! AS PESSOAS!!! E estas raras pessoas praticam, na vida, o que ensinam!!!! Porque importam-se verdadeiramente com os outros. E por isso sabe tão bem estar perto delas… Com elas!!!!

São estas pessoas que merecem tantas e tantas palavras… Mas, para elas, esta linguagem não chega… Não tem a devida dimensão…
Para essa e essas pessoas  seria mesmo preciso inventar outra linguagem…uma sintaxe do coração!!!!
Como  gostaria de a inventar quando o meu Doutoramento terminar!!!!! :)









sexta-feira, 13 de maio de 2011

As pequenas coisas...

“Pertencemos ao lugar aonde queremos ir” Wernher Von Braun

Viajar sempre foi, para mim, a par de um enorme prazer, um enormíssimo exercício filosófico ou, se se quiser, de reflexão pessoal…
E, isto, não tanto pela variedade e riqueza das experiências que, inerentemente, se lhe conotam mas essencialmente  pelo simplicíssimo acto de…fazer a mala!!!!
Nada mais simples, pensarão alguns!!! Nada mais filosófica, psicológica e pragmaticamente complicado, arriscarei eu!!!! 
Isto, claro, se se quiser fazer uma mala “à moda da Mónica”!!!!  Ou seja, paradoxalmente, uma mala que não leva coisa nenhuma e leva tudo de cada pequenina coisa que dá sentido à pequenina vida da pequenina Mónica!!!!
Quais bens essenciais, quais quê????!!!! Ele é os últimos bonequinhos de plasticina que os filhotes lhe fizeram, ele é os desenhos, ele é fotografias, ele é Bakugans, ele é a escova da Kitty da Bia em vez da escova da Mónica como devia ser até porque a escova da gatinha é diminuta para o cabelo já longo da mamã!!!
Ele é livros e mais livros e, vá lá, uns interiores, os kits de higiene, o essencial do vestuário feminino e…é só!!!! Claro que, chegada ao destino, se adivinha o desfecho: falta tudo!!!!  Mas na verdade, não falta nada!!!! É que não falta mesmo nada!!!!

Haja imaginação e a coisa vai lá!!!! Venham os imprevistos que a gente está cá para os enfrentar… de mala vazia mas de coração cheio!!!!

De facto, quando faço a mala, o essencial nunca vai lá: vai cá dentro, na maior mala, na maior mochila que existe e que nos permite acampar em qualquer lado – o Coração!!!! Tem espaço e divisões para tudo!!!!  

E há outra mochila ultra prática que também costuma andar sempre connosco (pelo menos até uma certa idade!!!!) e que dá sempre jeito levar – chama-se Memória!!!!

 E tem imenso espaço também, se soubermos criar as gavetinhas, as pastas e os ficheiros certos para que a informação a longo, médio e curto prazo não se misture e seja facilmente recuperada!!!!

Estas duas mochilas têm-me dado um jeitaço!!! É nelas que levo as grandes coisas!!! O essencial!!!! Para viajar, para sobreviver, para viver!!!!

É lá que encaixo a minha Identidade, o meu Presente, o meu Passado, os sorrisos que guardei, atitudes genuinamente bondosas a que assisti, frases bonitas que ouvi ou li e que me fortaleceram paulatinamente, gestos, momentos únicos,  o que dei, o tanto que recebi, o que aprendi mas também o que tenho vontade de aprender, os meus sonhos, a minha esperança…
No fundo, leva-se nestas duas mochilas a vida que cabe dentro de nós e aquela que esperamos que ainda venha a caber… e a sobrar!!!!
Na verdade, sempre pensei isto: haja esperança, vontade de futuro e haverá viagem…uma boa viagem!!!  Mais pão, menos pão, mais bife, menos bife (no que me toca, neste caso não há grande problema!!!), o corpo aguenta… Mas sem esperança…(e água, claro!!!) Hum, Hum… Não há alma que suporte uma viagem num corpo cujo coração não acredita em nenhum futuro, não deseja nenhum desejo, não sonha nenhum sonho…

Disse Nietzsche, e, na minha modesta opinião, tão bem, que “Aquele que tem um porquê para viver pode suportar qualquer como”.
E, efectivamente, o que por vezes nos permite enfrentar estes “comos” da vida são as pequenas coisas… As tais pequenas GRANDES coisas que, não sendo abstractas, têm mesmo que ir na mala de mão!!!
E então lá vai a mala carregada de plasticina… em viagem para mais um congresso, para uma conferência, palestra, workshop ou mesmo só em lazer (preciso tanto desta última alternativa!!!!!)…
Chega-se lá e, claro… Onde é que está um secador de jeito???? E um anti-transpirante??? (essencial quando se vai falar em público, não?????)
E…Oh… Não… As meias… Collants (entenda-se!!!)… Bem… Ainda se tem tempo para ir ao supermercado mais próximo???? Bomba de gasolina???? Anything????? Não faz mal… Também…Está tanto calor!!! Se não tivesse trazido a pen seria pior!!!!
Já agora, a pen????????????!!!!!!!!!! UFFFFFFFF…Aqui está ela!!!!
Claro, com um bocado de plasticina colada!!!! Esperemos que funcione!!!  Valha-nos Deus!!!! E a Virgem Maria!!!
Obrigada, Obrigada, Obrigada!!! Tudo certo!!! Vamos lá!!! Um bocadinho despenteada, sem meias mas com a matéria bem composta!!!! E bem disposta!!!!
Ai, espera… falta uma fotografia dos pequerruchos!!!
Uma pequena coisa!!!! Mas sempre...essencial!!!!








quinta-feira, 28 de abril de 2011

O que é uma mãe...

“As mães são filósofos instintivos.”  
Harriet Stone

O que é uma mãe?…
Foram tantas, mas tantas, as vezes que já me fiz esta pergunta… Antes de o ser, já a fazia. Depois de o ser, continuei a fazê-la…
O que é uma mãe…
Como ponto de partida, é um risco…Que assusta arriscar… Que se vai arriscando… Sempre com reticências mas sempre petiscando, ou melhor, banqueteando!!!! 
Porque, efectivamente, a maternidade é, no balanço das suas (in)esperadas dificuldades e alegrias, uma imensa delícia…Que sabe bem…saborear…devagar…à medida que os tamanhos crescem, que as roupas deixam de servir, que aparecem os primeiros sorrisos, os risos, as gargalhadas contagiantes, os gatinhares, os passos desiquilibrados, as pseudo-palavras, as palavras inteligíveis, os passos certos, as corridas, os desenhos, o faz-de conta, as brincadeiras infinitas…

É tanto um risco sê-lo como descrevê-lo… Porque, na verdade, depressa se  esgotam os substantivos, repetem-se adjectivos…
"Ser mãe" é um verbo de acção e de coração…Tudo junto!!!
“Ser mãe” é, também, o que junta…o que reúne, o que multiplica, mesmo quando não há!!!! 

Encontrei, aliás, uma frase de autor anónimo muito curiosa que referia que “uma mãe é aquela pessoa que ao ver que só ficam quatro bocados de bolo de chocolate tendo cinco pessoas à mesa, é a primeira a dizer que nunca gostou de chocolate.” Sim, concordo!!!  Eu, de vez em quando, mesmo gulosa como sou, também não gosto de chocolate!!!!
A minha mãe, de vez em quando, e ainda hoje, também não gosta de chocolate!!!
E a minha avó e a minha tia, lindas, que adoram chocolate, de vez em quando também não gostam de chocolate!!!!
E elas, principalmente elas, não gostaram de chocolate muitas vezes…mesmo adorando!!!!

Ser mãe não cabe, definitivamente, nas palavras…
Cabe, talvez, nos actos!!! E, acima de tudo, cabe na vida!!! É esse o lugar unicamente tangível e condignamente habitável ao seu tamanho!!!!

Uma mãe é… Exactamente isto – reticências!!!!

É a vivência em aberto, é a disponibilidade para o outro, física, mental e emocional, é o improviso…
 É, muitas vezes, o mais próximo da perfeição em termos de bom uso do coração…
E acredito que não há ser no mundo que fique mais vezes à beira de um ataque cardíaco do que uma mãe.
Mas sobrevive!!! Aliás, acho que uma mãe sobrevive a tudo pelos filhos!!!! Sei que é um lugar-comum mas não deixa de ser a verdade…Só há uma dor capaz de a fazer cair (pelo menos momentaneamente): a dor da impotência perante o sofrimento do filho…
Infelizmente, sei do que falo…
Há muitas dores que doem…De diferentes maneiras…Em diferentes locais… Em momentos diferentes de uma vida…
Mas, de facto, até hoje, nenhuma dor me foi mais pungente do que a dor da impotência perante o sofrimento dos meus filhos, neste caso da Beatriz, numa situação de doença gravíssima e quase fatal…
Nesses meses, acho que senti tudo o que havia para sentir…Senti a vida e a morte a acontecer dentro de mim, a cada segundo, a cada minuto, a cada infindável hora dos dias de internamento.
Mas senti,  sobretudo, a dor de não poder fazer renascer, de estar impotente perante um coma, perante uma ameaça de nunca mais ver a Bia a olhar para mim com os seus olhos de lua cheia…

E sem esta Lua o meu céu estava tão escuro…Mesmo com os raios do Sol que ia buscar aos sorrisos do Tiago… 
Esta é uma dor que não se esquece…Que fica cá…Talvez para nos lembrar que esta vida, a nossa vida e a vida dos outros,  é mesmo um milagre e, porquanto, as devemos viver e tratar como tal!!!
Todos os dias sinto este milagre acontecer diante de mim em tão pequeninas coisas…
Sinto-o quando vejo a cicatriz da Bia na sua belíssima barriguinha e ela me pede para lhe dar um beijinho no “dói-dói passado”… Foi assim que lhe chamou, é assim que as duas lhe chamamos…
Sinto-o quando vejo o Tiago a desviar a Bia quando passa algum cão, ou quando ouve o ruído estridente de uma mota,  ou a dizer que quer ir passar a manhã à escola dela para não deixar que uma certa menina marota lhe ande a chamar "feia"…
Sinto-o quando vou passear com eles e eles fogem os dois para depois regressarem com uma flor em cada mão, oferecendo-ma e pedindo que a ponha no cabelo…
Sinto-o quando eles já percebem quando eu lhes explico que não devem arrancar as flores porque elas precisam das folhas e do caule e das raízes e da terra e do ar e da água…E que as abelhas ficam tristes se não poderem ir ter com elas para ir buscar um bocadinho de pólen ao seu “coração” para depois poderem fazer o mel que eles tanto gostam…
Sinto-o quando o Tiago me confia o seu joelho  para eu lhe limpar a ferida, desinfectar e pôr um penso…Mesmo sabendo que vai doer...
Sinto-o quando a Bia finalmente acede a não levar as oito bonecas para o infantário e se fica pela “Dora”… (A que ela chama “Dora Susana”!!!! Ao que uma mãe está reservada!!!! Só me lembra o Camané a cantar: “Maria Albertina como foste nessa de chamar Vanessa à tua menina…”), ou quando percebe porque é que não pode vestir o vestido que ela adora 30 mil dias seguidos, ou quando aceita finalmente (uffff!!!!) que não pode levar os meus sapatos de salto alto calçados para a escolinha, ou porque é que não pode comer barrinhas Kinder ao pequeno almoço,  ou quando diz que vai ao “Jumbo” (o que quer dizer é que vai ao JUDO!!!!) e por isso é “Jumboca”!!!! J
Sinto-o quando lhes telefono só para ouvir aquelas vozinhas…
Sinto-o quando me apaixono outra e outra e outra vez, mil e uma vezes pelas suas mil e uma maneiras diferentes de sorrirem…
Sinto-o quando os vejo a brincar, a dormir, quando os vejo bem-dispostos, quando os vejo rabujentos, quando os vejo meiguinhos, quando os vejo embirrentos, quando os vejo a conversar, quando os vejo em silêncio, quando os vejo penteados, quando os vejo despenteados, quando os vejo “com pinta”, quando os vejo cheios de tinta…Em suma, quando os vejo cheios…de vida!
Uma mãe é, também, isto: alguém que tem o privilégio de ir sentindo todos estes milagres acontecerem dentro e fora de si...
 Milagres que foi ajudando a nascer, crescer e, em suma…a SER!!!
Como tiverem que ser...
 E o que quiserem ser com aquilo que são…
Porque isso, aí, já é com eles!!!! Mas a mãe estará lá...sempre!!!








quarta-feira, 20 de abril de 2011

O que é um momento...

“O valor das coisas não está no tempo em que elas duram mas na intensidade com que acontecem… Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.”
 Fernando Pessoa


A resposta, desta feita, veio antes da pergunta…
Um momento… - avancei, com a voz a afastar-se suavemente e a afundar-se cada vez mais na cavidade mais recôndita que encontrei…
E ela perguntou, com o olhar interrogativo de espanto:
- Demoras muito?
- Estou quaaaaaaassssseeeeee….
- Aqui vou eu…
Silêncio… Fez-se silêncio… Daqueles silêncios expectantes que ecoam pela casa toda… Daqueles silêncios cardíacos, quase nervosos, mas bons, saborosos, escondidos, secretos….
Ouço-lhe os passinhos pequenos e saltitantes…
- Oh mãe, afinal onde é que tu te escondeste?????!!!!
- Quente, quente!!!!...

A porta da despensa entreabre-se, um rastilho de luz entra timidamente e um risinho maroto explode em risadas estridentes e partilhadas:
- ENCONTREI-TE!!! ENCONTREI-TE!!!!
Agora sou eu a esconder-me, mãe! Vá, fecha os olhos…

Eu fecho… Escuto os passos…Visualizo-lhe o percurso da fuga…Saboreio a brincadeira…
Vivo o momento dos nossos deliciosos (des)encontros de mãe e filha nas divisões da casa… Sim, agora ainda nas divisões da casa… Mais tarde, talvez, nas divisões da vida!!!!
E andámos nisto sei lá eu quanto tempo… O necessário, talvez, para aprendermos internamente que, no fundo, nos poderíamos perder uma da outra mas sempre nos iríamos reencontrar…
Para aprendermos que poderíamos, literalmente, estar fora do alcance da vista mas não do alcance do coração!!! 

 (Na verdade, a própria brincadeira universal que os bebés fazem do jogo do “cu-cu” ou do atirar os objectos para o chão e de os colocar fora do alcance da visão à espera de que alguém os volte a colocar perto deles acaba por os ajudar igualmente a lidar com essa mesma ansiedade de separação, a lidar com os futuros encontros e desencontros da vida - além de contribuir para a aquisição de uma importante competência cognitiva designada por “permanência do objecto”).

Mas é de momentos como estes que se constrói uma relação, que se constrói, neste caso, o amor parental… Porque, efectivamente, qualquer relação requer tempo, requer momentos, tempo(s) e momento(s) para estar e ser com o Outro…Porque acredito que só amamos o que realmente conhecemos e só conhecemos realmente se dedicarmos tempo a esse processo de conhecimento.
Não há amor, relação, conhecimento, sem…tempo, sem momentos, sem instantes únicos e eternos, de completa dedicação.
No livro “ O Principezinho” , de Saint- Exupéry , é sábia a mensagem metafórica dada pela Raposa ao Principezinho quando este olhou, triste, para um jardim cheio de rosas e viu que a sua era, afinal, igual a tantas outras... Então a Raposa disse-lhe:  “A tua rosa é única pois foi o tempo que dedicaste à tua rosa que a tornou tão importante, única e distinta das outras rosas!!!”

Será que hoje há tempo para se cultivar rosas únicas????
Hoje vive-se numa espécie de “fast food” sentimental!!!!  Alimentamo-nos de emoções cozinhadas no microondas!!!!
Depois, tudo sabe a pouco ou tudo é excessivo. Raramente se sente que as relações estão “no ponto” exactamente porque não levam o devido e necessário tempo a cozinhar!!! Ou são insonsas ou demasiado salgadas ou demasiado picantes ou mesmo intragáveis!!!!
São relações tipo ”lasanha” para Microondas, 5 minutos e já está!!! 
Mesmo as conversas são “conversas buffet”…
Senão, vejamos: são conversas aparentemente sem pressa mas sempre à pressa, em que se fala um bocadinho de cada assunto e nunca muito de nada em particular, em que se prova um pouco de tudo, com diálogos quase sempre incompletos e histórias quase sempre contadas na versão “trailler”…Nem tempo há para imaginar devidamente os contornos das personagens intervenientes a não ser que as ditas conversas sejam entre familiares e sobre familiares!!!!
As respostas às perguntas dos ditos diálogos incompletos são quase sempre antecipadas e bebidas – como o café- já só de um gole, que o relógio não pára e a vida continua…Não se sabe bem para onde!!!
Ainda assim, quando há conversa, mesmo “conversa buffet”, é já uma raridade…Se há conversa é porque há momentos… E para haver momentos é preciso haver tempo…E esses momentos podem ser mais ou menos intensos….
Um momento é, pelo menos, temporalmente maior  que um instante… O normal, hoje, é tão só um instantâneo SMS, devidamente abreviado para que cada vez mais  encurtado seja.
Manda-se o sms, escreve-se no mural, dá-se um gráfico sinal de vida e já está!!! 
Escrever mais???? Mas isso implica pensar…E pensar dá trabalho…E a malta desde há uns anos para cá que se dedica a bem cultivar a preguiça…
Porque, justiça seja feita, nós temos excelentes “preguicicultores” em muitos dos terrenos do nosso Portugal!!! Mas, paradoxalmente, lá fora, quase não nos dedicamos à “preguicicultura”!!!! Aliás somos, na generalidade, trabalhadores exímios!!!
Veja-se o caso do Luxemburgo cuja população total tem 20% de Portugueses e é o país actualmente com maior sucesso económico a nível mundial!!!
Evidentemente, nada tenho contra os sms, posts, links…Pelo contrário!!! Reconheço-lhes a grande e notável utilidade e qualidade! Mas também o defeito, que não é mais senão o do retrato da própria sociedade actual: a instantaneidade!
Como tudo o que é instantâneo, os posts passam (este vai passar!!! Snifff!!! Snifff!!!), os sms são apagados, os links desaparecem… E ficamos no fim com um vago registo do que se passou…  Talvez, por isso, volte a escrever cartas…Só para saborear a letra, o gesto, a escrita, o acto de envelopar, de escrever a morada, de escolher o selo, de colar o selo, de colocar no marco, de esperar tantos dias… Porque às vezes sabe bem esperar uma carta (desde que não sejam aquelas que vêm todo o santo mês a acusar os já esperados débitos na conta bancária)… Quando sabemos que ela vem, sabe bem esperá-la… E são momentos bons, os da espera!!! E são momentos bons, os do reencontro!!!!

Como estes, em que reencontro os teus olhos a pestanejar, em que observo com redobrada atenção os teus dois longos pares de pestanas  a borboletejar sobre as tuas íris floridas…
Guardo estes momentos em que observo como és linda, Bia!!!

Um dia, quando eras mais pequenina, perguntaste-me o que era um momento…

Um momento é isto…
É este tempo em que te olho, depois de te esconderes e de eu te encontrar, este tempo finito que me sabe a infinito, que se perfuma de eternidade…
É este tempo em que pouso o olhar nas tuas mãos pequenas e as trago para o meu rosto…
É este tempo ainda do nosso tamanho em que rimos juntas e em que olhamos uma para a outra a sorrir e tu me pedes água e em que eu te dou água e em que escuto a tua sede a acalmar…
Um momento é isto…Pode ser isto… Ou outra coisa…
Um momento às vezes escolhe-se...
Outras vezes, acontece-nos...
Outras vezes, ainda, escolhemos fazê-lo acontecer-nos!!!!
Como este(s)!!!!