segunda-feira, 29 de julho de 2013

As melhores coisas que há...para ser feliz!


"Sou um aquário de mares"
  Jorge da Sena
                                             Tiago Simões e Mafalda Gonçalves in CNS Fotografia de Luís Fráguas
 

 O poeta António  Pina dizia que as coisas melhores que há são de ar… Eu assumo o risco de parafrasear: a coisa melhor que há…é mesmo o ar deles (vide acima Tiago S. e Mafalda G.)! Este ar único de ser feliz com o Atlântico inteiro no olhar e o coração a pular com tanta vida a sorrir e a latejar por dentro, por fora e por todos os centímetros quadrados da derme.

Aquilo que de mais simples e precioso podemos dar aos nossos filhos são estes momentos… momentos felizes…momentos de ar!… Momentos em que eles podem sacudir o pó dos dias e porem o coração a arejar...Momentos em que, pela pele, deixam escorrer um sorriso atlântico, um sorriso de areia e espuma, um azul ondulado de céu inteiro…
 
Trata-se de momentos em que deixam a alma ao ar…a respirar…ou simplesmente a…estar… São momentos em que os dias têm mais dia dentro, em que chegam até nós cansados mas a pedir mais hoje e mais dias seguintes, em que a vida se lhes demora mais dentro do olhar e em que um agora se quer eterno.
 Há momentos assim, para todos nós… E são estes momentos que dão mais eternidade à vida…Mesmo que durem segundos, minutos, dias ou semanas.
 Mas nós, pais, adultos, simples(?) seres humanos, tão embrenhados que estamos no nosso dia-a-dia e tão limitados pela obrigação de solucionar problemas imediatos, adiamo-los sempre para o fundo do relógio, para o fim do calendário, para o dia que nunca chega…
 
Mas ninguém, e muito menos as nossas crianças, vivem felizes de coração definhado, amarfanhado e em anoxia mental e afetiva. É por isso que estes momentos, estes momentos de ar, de que tão bem fala Manuel António Pina, são essenciais…Além de serem inesquecíveis…E serem, mesmo, a melhor coisa que há!
Seria bom, muito bom que todos os meninos que por aí vegetam com o olhar enjaulado nas playstation pudessem simplesmente ter um “ar de Tiago”… E as raparigas que sufocam inteligências e afundam narizes e olhos e pestanas e pontos negros e borbulhas no facebook tivessem um “ar de Mafalda”… Talvez respirassem…melhor. Ou, simplesmente...Respirassem! E isso (respirar!), quer se queira quer não, é fundamental, parece, para ser feliz!
Ambos (o Tiago e a Mafalda) conheceram-se no Dia Aberto do Clube Naval de Sesimbra. Desde esse dia, voltaram a encontrar-se num curso intensivo de Vela. A Mafalda é já uma notável atleta da modalidade e não só “apadrinhou” o Tiago como o acarinhou de uma forma admirável, a ponto dele já a chamar de “mana mais velha da vela” e existir, entre eles, uma cumplicidade que emociona, o que, a par da relação que estabeleceu com o  professor e um gosto especial por tudo o que tem a ver com mar, incentivou grandemente o Tiago para continuar na Vela.
No oceano de dificuldades em que, por vezes, a nossa realidade de adultos parece transformar-se, erguem-se, assim, estas ilhas de privilégio e verdadeiros arquipélagos de felicidade que nos dão mais horizonte à alma e mais alcance ao olhar… Sempre acreditei que a principal função dos pais passava por estas duas grandes dimensões:
1)    Ensinar os filhos a passar sem nós, ou seja, a construir a sua própria autonomia(o que implica proporcionar-lhes uma boa base de segurança familiar e confiança básica prévia);
2)    Proporcionar aos filhos o melhor e maior leque de possibilidades e experiências educativas e socio-emocionais devidamente estruturado;
 
Podermos dar aos nossos filhos a oportunidade de experimentarem o que realmente tem a ver com eles, o que verdadeiramente os apaixona e os faz sorrir como se o sol lhes aflorasse em redor dos lábios, ensinando-os, ao mesmo tempo, a descobrirem-se a eles próprios, a superar medos e dificuldades, a descobrir planícies de apoios, planaltos de coragem e a aceitarem-se como são, independentemente do que vestem, do que aparentam ou do sucesso superficial que atingem, é algo que nos coloca no trilho certo como pais .
 
Na verdade, só fazendo o que realmente nos apaixona, superando medos e ganhando coragem para vivermos de acordo com a verdadeira essência do nosso ser, alcançamos o maior poder do mundo:  o de sermos donos da nossa própria felicidade.
 
 
 




As coisas melhores que há...
 
 
As melhores coisas são feitas no ar,
Andar nas nuvens, devanear

Voar, sonhar, falar no ar,
Fazer castelos no ar

E ir lá para dentro morar
Ou então estar em qualquer sítio só a estar,
A respiração a respirar,
O coração a pulsar
O sangue a sangrar,
A imaginação a imaginar,
Os olhos a olhar
(embora sem ver)
E ficar muito quietinho a ser
Os tecidos a tecer
Os cabelos a crescer
E isto tudo a saber
Que isto tudo está a acontecer
As coisas melhores são de ar
Só é preciso abrir os olhos e olhar
Basta respirar!
 
Manuel António Pina