quarta-feira, 17 de outubro de 2012

(Com)passos de alma e coração...

 
Existe uma fábula africana que conta a história de um explorador branco que ansiava por chegar o quanto antes ao coração de África. Assim, ofereceu um pagamento extra aos transportadores para que caminhassem mais depressa. Estes obedeceram durante várias semanas, mas, uma tarde, sentaram-se no chão e recusaram-se a continuar. Quando o explorador pediu explicações, responderam:
 
- Andámos tão depressa que já não sabemos o que estamos a fazer. Agora temos que esperar que as nossas almas nos alcancem.
 
 
Esta breve história fala-nos de um elemento fundamental para o  funcionamento de todas as relações humanas: o tempo! Parece óbvio que nada se constrói sem tempo e, no entanto, cada vez isso é mais esquecido. Ao nível das relações este factor é crucial!
 
 Muitas vezes, a desorientação global que se sente deriva exactamente do facto de nos termos empenhado em viver numa velocidade tal que, como os transportadores da fábula, esquecemo-nos para onde vamos e quem realmente somos.
Confundimos, por exemplo, o facto de ter amigos no Facebook, onde se é incluído num só click, com a profundidade das relações que exigem tempo e experiências partilhadas.
 
 
Tudo o que verdadeiramente nos enche o coração é tudo aquilo que mais tempo nos demorou na alma e no olhar... É tudo o que, em suma, levou tempo a ajeitar cá dentro.
 
É tudo aquilo que é tanto, tudo aquilo para o qual a alma não arranja palavras e para o qual os olhos tantas vezes traduziram ora em lágrimas ora ora sonhos ora em pestanejares felizes, e que a memória fez saltar em saudade...
 
Mas é também tudo aquilo que nos enche a vida de Presente, que nos deixa um tic-tac feliz e vibrante, que nos desarruma passados para arranjar lugar para fututos em primeira plateia!
 
Sem pressa nem arritmias mas com a vida a latejar de contente... O coração é um orgão de tempo... de esperas e esperanças... E que bate particularmente depressa quando a alma lhe segue o ritmo... O que acontece duas, três, quatro ou cinco vezes na vida. Outras vezes, só uma. Há quem diga que aos infelizes, nenhuma. Não há receitas para esta sintonia... Ou talvez haja: não haver pressa nem velocidade. São ambas, acho, inimigas cardíacas e anímicas. 

 Não raras vezes queremos chegar tão depressa ao amor, ao prazer, ao sucesso, que aceleramos o coração e deixamos a alma pelo caminho... Chegados ao destino, somos só tic-tac. Temos a bomba a funcionar e a alma ficou para trás.
 
E um coração sem alma é apenas bomba... Só explode, mais cedo ou mais tarde. Não ama. Amar leva tempo... implica levar a alma na mochila... não a deixar ficar para trás.
 
Vê-se muitos políticos, por exemplo, que ainda dizem que estão de coração na política... mas já não têm alma nem anima. Foi perdida ou vendida no caminho, tal era a pressa de conquistar o coração do público.
 
É o que acontece com tantos músicos. E actores, pintores, artistas, escritores, casais.
 
O amor, o prazer, o sucesso, conquistam-se com a alma e o coração juntos...mas implicam sintonias...Tempo...
 
Tempo para fazer caminho... Tempo para os passos...Tempo para os passos  em conjunto...
Tempo para os...Compassos!
 
 
 

3 comentários:

  1. Está simplesmente verdadeiro!!!
    Élia

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  2. Faço minhas as suas palavras...incrivél...
    Estamos na era em que se substitui o tempo que se pode estar junto por sms, conversas no facebook...alegando que não se tem tempo...
    Eu acho que tb é preciso vontade...querer muito...
    Porque não disponibilizar 30 minutos...1 hora...para beber um café...conversar um pouco...tudo se consegue!
    Ana Isabel Santos

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  3. Obg minha querida...obg pela partilha...levei!
    sou uma devoradora de palavras..e as palavras teem para mim grande peso...e são a forma de chegar ao coraçao dos outros.Neste seu texto encontrei algo belo que partilho...espero que nao se importe...afinal o amor é para ser doado...só assim acalenta as almas sofredoras.beijo na alma e no coraçao.

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