domingo, 9 de janeiro de 2011

(Des)Ligar...

“Quando eu disse ao caroço da laranja que dentro dele dormia um laranjal inteiro, ele olhou-me estupidamente incrédulo…”  Hermogenes


Somos sempre mais fortes do que aquilo que pensamos e mais capazes do que aquilo que acreditamos… O difícil é, acima de tudo, acreditar nisso… Vivemos presos ao familiar, ao conhecido, à rotina, mesmo quando essa rotina nos vai matando paulatinamente…
Na minha prática clínica tenho-me deparado com inúmeras histórias de vida que, se devidamente adjectivadas, ficariam para além do horrível… São, na verdade, e eufemísticamente falando, impressionantes. Mas de todas as histórias de vida que ouço contadas na primeira pessoa, impressionam-me particularmente as decorrentes de maus-tratos parentais e conjugais… Por várias razões, estes últimos, a par de me impressionarem pela sua recorrência, confundiam-me… Principalmente pela dificuldade que a “vítima” tinha em… desligar! Desligar-se do agressor, acabar com a situação, pôr um ponto final. Mas depressa aprendi que, nestas histórias, os desfechos são sempre pontuados com reticências…

Muitas razões são apontadas para argumentar a continuidade: há os filhos, as dificuldades (económicas ou não!), o pudor, a vergonha… E o silêncio permanece, o grito de dor emudece na garganta apertada, a inacção mantém-se.
Mas não devia ser exactamente pelos filhos que a motivação para mudar deveria crescer na alma? Passar da motivação à acção, da alma aos músculos, do pensamento à palavra?
E se pensarmos na questão: o que é que uma criança sente e pensa quando assiste a uma discussão que culmina num pai a cotovelar a mãe, a mãe a sangrar, caída entre sangue e lágrimas? O que é uma criança lembra? Porque, se é verdade que as feridas cicatrizam e as equimoses passam, as memórias não!!!! Ainda não inventaram  Pentosanopolissilfato de Sódio (vulgo Thrombocid) para “dissolver” as equimoses do coração!
Perante estas histórias, nunca há o que receitar a não ser uma grande caixa de auto-confiança para… desligar!
Isto porque, na verdade, o que estas mulheres (e muitas vezes raparigas) precisam é de acreditar que são capazes e não que lhes receitem um ansiolítico e um anti-depressivo que as deixe ainda mais passivas e permissivas, ainda mais indiferentes e anódinas.
Infelizmente, ainda não há anti-depressivos que previnam uma cotovelada no olho… Só mesmo uma grande dose de coragem e auto-confiança ajuda a prevenir equimoses decorrentes destas absurdas causas.

É verdade que nunca saberemos, ao certo, o que nos liga a alguém… Mas deveríamos saber, com toda a certeza, aquilo que nos deve fazer… desligar!!!


1 comentário:

  1. O RISO DE UMA CRIANÇA É A MAIOR FELICIDADE DE TODAS.
    VIVAM AS MULHERES COM CORAGEM PARA DESLIGAR!

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