quinta-feira, 28 de abril de 2011

O que é uma mãe...

“As mães são filósofos instintivos.”  
Harriet Stone

O que é uma mãe?…
Foram tantas, mas tantas, as vezes que já me fiz esta pergunta… Antes de o ser, já a fazia. Depois de o ser, continuei a fazê-la…
O que é uma mãe…
Como ponto de partida, é um risco…Que assusta arriscar… Que se vai arriscando… Sempre com reticências mas sempre petiscando, ou melhor, banqueteando!!!! 
Porque, efectivamente, a maternidade é, no balanço das suas (in)esperadas dificuldades e alegrias, uma imensa delícia…Que sabe bem…saborear…devagar…à medida que os tamanhos crescem, que as roupas deixam de servir, que aparecem os primeiros sorrisos, os risos, as gargalhadas contagiantes, os gatinhares, os passos desiquilibrados, as pseudo-palavras, as palavras inteligíveis, os passos certos, as corridas, os desenhos, o faz-de conta, as brincadeiras infinitas…

É tanto um risco sê-lo como descrevê-lo… Porque, na verdade, depressa se  esgotam os substantivos, repetem-se adjectivos…
"Ser mãe" é um verbo de acção e de coração…Tudo junto!!!
“Ser mãe” é, também, o que junta…o que reúne, o que multiplica, mesmo quando não há!!!! 

Encontrei, aliás, uma frase de autor anónimo muito curiosa que referia que “uma mãe é aquela pessoa que ao ver que só ficam quatro bocados de bolo de chocolate tendo cinco pessoas à mesa, é a primeira a dizer que nunca gostou de chocolate.” Sim, concordo!!!  Eu, de vez em quando, mesmo gulosa como sou, também não gosto de chocolate!!!!
A minha mãe, de vez em quando, e ainda hoje, também não gosta de chocolate!!!
E a minha avó e a minha tia, lindas, que adoram chocolate, de vez em quando também não gostam de chocolate!!!!
E elas, principalmente elas, não gostaram de chocolate muitas vezes…mesmo adorando!!!!

Ser mãe não cabe, definitivamente, nas palavras…
Cabe, talvez, nos actos!!! E, acima de tudo, cabe na vida!!! É esse o lugar unicamente tangível e condignamente habitável ao seu tamanho!!!!

Uma mãe é… Exactamente isto – reticências!!!!

É a vivência em aberto, é a disponibilidade para o outro, física, mental e emocional, é o improviso…
 É, muitas vezes, o mais próximo da perfeição em termos de bom uso do coração…
E acredito que não há ser no mundo que fique mais vezes à beira de um ataque cardíaco do que uma mãe.
Mas sobrevive!!! Aliás, acho que uma mãe sobrevive a tudo pelos filhos!!!! Sei que é um lugar-comum mas não deixa de ser a verdade…Só há uma dor capaz de a fazer cair (pelo menos momentaneamente): a dor da impotência perante o sofrimento do filho…
Infelizmente, sei do que falo…
Há muitas dores que doem…De diferentes maneiras…Em diferentes locais… Em momentos diferentes de uma vida…
Mas, de facto, até hoje, nenhuma dor me foi mais pungente do que a dor da impotência perante o sofrimento dos meus filhos, neste caso da Beatriz, numa situação de doença gravíssima e quase fatal…
Nesses meses, acho que senti tudo o que havia para sentir…Senti a vida e a morte a acontecer dentro de mim, a cada segundo, a cada minuto, a cada infindável hora dos dias de internamento.
Mas senti,  sobretudo, a dor de não poder fazer renascer, de estar impotente perante um coma, perante uma ameaça de nunca mais ver a Bia a olhar para mim com os seus olhos de lua cheia…

E sem esta Lua o meu céu estava tão escuro…Mesmo com os raios do Sol que ia buscar aos sorrisos do Tiago… 
Esta é uma dor que não se esquece…Que fica cá…Talvez para nos lembrar que esta vida, a nossa vida e a vida dos outros,  é mesmo um milagre e, porquanto, as devemos viver e tratar como tal!!!
Todos os dias sinto este milagre acontecer diante de mim em tão pequeninas coisas…
Sinto-o quando vejo a cicatriz da Bia na sua belíssima barriguinha e ela me pede para lhe dar um beijinho no “dói-dói passado”… Foi assim que lhe chamou, é assim que as duas lhe chamamos…
Sinto-o quando vejo o Tiago a desviar a Bia quando passa algum cão, ou quando ouve o ruído estridente de uma mota,  ou a dizer que quer ir passar a manhã à escola dela para não deixar que uma certa menina marota lhe ande a chamar "feia"…
Sinto-o quando vou passear com eles e eles fogem os dois para depois regressarem com uma flor em cada mão, oferecendo-ma e pedindo que a ponha no cabelo…
Sinto-o quando eles já percebem quando eu lhes explico que não devem arrancar as flores porque elas precisam das folhas e do caule e das raízes e da terra e do ar e da água…E que as abelhas ficam tristes se não poderem ir ter com elas para ir buscar um bocadinho de pólen ao seu “coração” para depois poderem fazer o mel que eles tanto gostam…
Sinto-o quando o Tiago me confia o seu joelho  para eu lhe limpar a ferida, desinfectar e pôr um penso…Mesmo sabendo que vai doer...
Sinto-o quando a Bia finalmente acede a não levar as oito bonecas para o infantário e se fica pela “Dora”… (A que ela chama “Dora Susana”!!!! Ao que uma mãe está reservada!!!! Só me lembra o Camané a cantar: “Maria Albertina como foste nessa de chamar Vanessa à tua menina…”), ou quando percebe porque é que não pode vestir o vestido que ela adora 30 mil dias seguidos, ou quando aceita finalmente (uffff!!!!) que não pode levar os meus sapatos de salto alto calçados para a escolinha, ou porque é que não pode comer barrinhas Kinder ao pequeno almoço,  ou quando diz que vai ao “Jumbo” (o que quer dizer é que vai ao JUDO!!!!) e por isso é “Jumboca”!!!! J
Sinto-o quando lhes telefono só para ouvir aquelas vozinhas…
Sinto-o quando me apaixono outra e outra e outra vez, mil e uma vezes pelas suas mil e uma maneiras diferentes de sorrirem…
Sinto-o quando os vejo a brincar, a dormir, quando os vejo bem-dispostos, quando os vejo rabujentos, quando os vejo meiguinhos, quando os vejo embirrentos, quando os vejo a conversar, quando os vejo em silêncio, quando os vejo penteados, quando os vejo despenteados, quando os vejo “com pinta”, quando os vejo cheios de tinta…Em suma, quando os vejo cheios…de vida!
Uma mãe é, também, isto: alguém que tem o privilégio de ir sentindo todos estes milagres acontecerem dentro e fora de si...
 Milagres que foi ajudando a nascer, crescer e, em suma…a SER!!!
Como tiverem que ser...
 E o que quiserem ser com aquilo que são…
Porque isso, aí, já é com eles!!!! Mas a mãe estará lá...sempre!!!








1 comentário:

  1. Mãe babada, o pai também muitas vezes não gosta de chocolate...
    Mas tens razão todos os dias, aprendemos sempre mais. Isso torna sempre gratificante qualquer sacrificio!

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